Terça-feira, 27 de Julho de 2010

DOR, o que você sabe sobre ela?

Acho que não existe sensação pior que a dolorosa. A dor física pode ser extremamente estressante e incapacitante, dependendo da sua intensidade.

Mas, como ocorre o processo doloroso? Hum… pra explicar todos os mecanismos envolvidos eu precisaria de umas vinte páginas (e ninguém leria), passei dois anos e meio estudando a dor e ainda hoje não saco quase nada da coisa. De qualquer maneira, vou tentar usar aqueles poderes saponaturais pra sintetizar o resumão que todo mundo gosta e entende (acho).

Cachorro dor

Primeiramente, temos que pensar na dor como um processo fisiológico, afinal, o intuito é avisar quando o seu corpo está sendo agredido por um agente nocivo. Se o fogo não doesse, você não sacudiria a mão quando a chama do palito de fósforo chega aos seus dedos e, provavelmente, ficaria sem eles.

Vendo de uma forma integral, para classificar ou tentar quantificar a dor, é necessário avaliar o aspecto físico, mental e emocional do indivíduo, pois o meio influi mesmo. Já viu aqueles casos que você se machuca gravemente, mas está tão concentrado em outra coisa que nem nota? Pois é.

 

Então, físicamente, tudo se inicia com um estímulo nocivo (fogo, agulha, caco de vidro, 12 tiros), que é capaz de ativar os neurônios sensoriais aferentes primários (nociceptores (receptores sensíveis a dor), enviando o sinal (onda de despolarização) do axônio até o cérebro, muitas vezes passando pelo corno dorsal da medula espinhal. Os receptores específicos para a dor estão localizados nas terminações das fibras nervosas A e C (classificadas em subtipos A1, A2, C1 e C2), que quando ativadas sofrem alterações na membrana permitindo a liberação de potenciais de ação.

 

As fibras A (mielinizadas) são responsáveis pela transmissão rápida da dor, e as fibras C (não mielinizadas) pela transmissão lenta. Esses nociceptores, são capazes de traduzir estímulos químicos, térmicos e mecânicos em sinais elétricos que são traduzidos como dor pelo córtex cerebral.

 

Muita coisa ainda é obscura nesses mecanismos, existem diversos receptores e substâncias capazes de ativar os nociceptores, uma bem conhecida é a capsaicina, substância presente na pimenta.

 

O interessante, é que cada fibra nervosa é responsável por transmitir determinados estímulos, algo meio especializado.

 

Fibras A1 -- Respondem a temperaturas em torno de 52ºC, são insensíveis a capsaicina e possuem resposta mediada pelos receptores VRL-1.

 

Fibras A2 -- São sensíveis a temperaturas em torno de 43ºC, a capsaicina e ativam, via receptores VR1, canais catiônicos não-seletivos permeáveis ao cálcio.

 

Fibras C1 -- Contêm substância P e CGRP e expressam receptores tirosina cinase A, para o fator de crescimento nervoso. São responsivas a capsaicina e a prótons.

 

Fibras C2 -- Expressam receptores purinérgicos P2X3 para adenosina e um grupo de carboidratos de superfície, a α-D-galactose, capaz de se ligar a lecitina IB-4, sensíveis seletivamente a prótons.

 

As substâncias capazes de sensibilizar os nociceptores, são chamadas algiogênicas. Alguns exemplos são: acetilcolina, bradicinina, histamina, serotonina, leucotrienos, substância P, fator de ativação plaquetário, radicais ácidos, íons potássio, prostaglandinas, tromboxana, interleucinas, fator de necrose tumoral (TNF-α), fator de crescimento nervoso (NGF) e monofosfato cíclico de
adenosina (AMPc).

 

-- Mas tio Sapo, toda dor é igual?

-- Não sobrinho (porre), existem 3 tipos de dor, e são eles:

 

1. Dor nociceptiva – É causada por um estímulo direto dos nociceptores, que podem ser: mecânico (beliscão da vovó), térmico (ponta de cigarro) ou químico (formigas vermelhas), etc.

Dor
2. Dor neuropática – Causada por alguma lesão em um nervo que ocasiona contínuo envio de sinal doloroso. Pode não ter causa conhecida (idiopática), mas é mais comum em certos processos, como diabetes, herpes-zóster, dor do membro fantasma (situação onde a pessoa não tem mais um membro, mas ele continua doendo). Pelo seu grande papel na dor crônica, representa um desafio para a pesquisa clínica, que necessita desenvolver fármacos mais eficazes.

Dores

 

3. Dor  inflamatória – (É a que eu mais gosto (para fins de pesquisa, é claro) Ocasionada por uma gama de processos patológicos, desde uma simples acne, até inflamações crônicas como artrite reumatóide. Tem seu início com a cascata bioquímica da inflamação que dá origem a dezenas de substâncias capazes de influenciar o comportamento dos nociceptores, desde sua ativação direta, até a redução do limiar (limite) de ativação.

 

Dor nas costas


Existem alguns termos que descrevem situações dolorosas específicas:

 

Hiperalgesia: Baixo limiar de dor. É uma situação onde a pessoa tem uma resposta dolorosa exacerbada a um estímulo menor. Sente mais dor do que deveria. Tipo, já viu aquelas pessoas que fazem um escândalo quando furam o dedo (muito comum em emos). Um furo de agulha dói, mas não é pra tanto. Pode acontecer se o indivíduo estiver exposto a um segundo estímulo doloroso, se o local da furada da agulha estava inflamado (prostaglandinas reduzem o limiar de excitabilidade dos nociceptores), nesse caso teria até motivos pra escândalo, mas não muito.

Hipoalgia: Alto limiar de dor. É ao contrário, existem pessoas que simplesmente tem uma resistência maior a estímulos nocivos. Os orientais das artes marciais (loucos de pedra), costumam conseguir isso com meditação e treinamento. Quebram pedras com a cabeça, golpeiam tábuas de madeira maciça e não sentem nada (ou fingem). Os militares costumam ter treinamento contra a tortura, se convencem que não dói, algo mais mental do que físico. É uma situação em que existe dor sim, mas o limite do indivíduo é bem maior.

Alodínia: Dor sem motivo. Nesse caso a pessoa sente dor com atos que normalmente não provocaria estímulo doloroso. Tipo comer, dormir, andar, tomar banho (cascão). Imagina você sentir dor toda vez que for abraçar o seu namorado.

Síndrome Riley-Day: Insensibilidade à dor. Apesar de eu achar essa a mais maneira, imagina você não sentir dor nenhuma, nunca. Pode apanhar, ser queimado, perfurado, levar tiro, dizimado, destruído ou suicidado, nunca vai doer. Entretanto, é também a mais perigosa, geralmente você não duraria muito tempo, e se durasse, teria grande chance de ficar incapacitado por ferimentos graves que poderiam ser facilmente evitados se você sentisse dor. Causada por uma mutação em um gene encarregado da síntese de um tipo de canal de sódio que se encontra principalmente em neurônios encarregados de receber e transmitir o estímulo doloroso. A pessoa parece perfeitinha, sente frio, calor, cosquinha, pressão, mas dor mesmo… nenhuma.


Nocicepção: Esse é o termo correto a ser utilizado, quando falamos de estímulos dolorosos em animais. Já que não é possível ainda, classificar o aspecto emocional da criatura. Se nos humanos a dor já é tão subjetiva, imagina num coelho, papagaio, rato ou sapo. Por isso, usamos nocicepção (pelo menos num seminário acadêmico formal, mas, na sua casa, fale como quiser, afinal, o pobrema é seu).

Como o Sapo estava ao postar: Amanhã tem trabalho em triplo
O que o Sapo pensava enquanto postava: Preciso de uma poltrona de PC
Publicado pelo Sapo mesmo: Sapo às 22:38
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2 comentários:
De Não estou a fim de me identificar... mas o Sapo é lindo a 10 de Janeiro de 2011 às 23:34
Dor.....aiiii.......rrssss...


Prefiro acreditar na dor como "castigo divino"!!...rrssss... :P

EEEiiii doctor!!

Sempre interessante as coisas por aqui...

Bjos!!


Eu:)


De Jogos a 25 de Abril de 2011 às 21:00
Obrigado, vou por este blog nos meus favoritos, Pedro


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Amei sua postagem!! Possui uma didática incrível!!
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